Poema - A Vaga

A vaga vaga incansavelmente num vai-e-vem peremptório, derruba barreiras, não respeita fronteiras, esgueira-se como furtiva ladra entre sombrios promontórios. Nesse incessante movimento, abraça o continente, seu amado em uma volúpia descontrolada.... satisfaz-se.Por vezes, durante a noite e o dia, mais ao longe se lança, talvez temerosa, talvez até sem esperança, mas alcança. Gôzo, luxúria, prazer, pecadora, maculada... vadia. Do alto, no negrume, alguém lhe fala: - Ó vaga que vaga e ao seu amor abraça, lembre-se de mim que lhe ornamento com o véu de minha luz e dessa forma lhe torno mais bela, mais sensual, e ao teu amado seduz. Do alto, no brilho, alguém lhe diz: - Ò vaga errante, soberba estás pois sou eu quem te tinjo de dourado no arrebol. Lembre-se de mim. - Se não fossemos nós... serias tu um nada. Não terias tu, o teu amado. Ingrata é o que és. Da terra, a réplica vem... - Você lua e você sol. Dizem o que dizem, querendo a mim maltratar. Inveja, apenas inveja é o que sentem. Eu, todos os dias, quedo-me à praia para o meu amante encontrar e assim juntos, eternamente viver. Vocês, no entanto, perseguem-se há infindas gerações e encontram-se apenas em raros eclipses. Vãos-se... calem-se... afastem-se. Continuem a sua perseguição um do outro. Quem sabe, talvez um dia alguém maior que nós, de vocês tenha cuidado e os faça unirem-se e tenham a felicidade que nunca, jamais tiverem ou ousaram sonhar!


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