A vaga vaga incansavelmente num vai-e-vem peremptório, derruba
barreiras, não respeita fronteiras, esgueira-se como furtiva ladra entre
sombrios promontórios. Nesse incessante movimento, abraça o continente, seu
amado em uma volúpia descontrolada.... satisfaz-se.Por vezes, durante a noite e
o dia, mais ao longe se lança, talvez temerosa, talvez até sem esperança, mas
alcança. Gôzo, luxúria, prazer, pecadora, maculada... vadia. Do alto, no
negrume, alguém lhe fala: - Ó vaga que vaga e ao seu amor abraça, lembre-se de
mim que lhe ornamento com o véu de minha luz e dessa forma lhe torno mais bela,
mais sensual, e ao teu amado seduz. Do alto, no brilho, alguém lhe diz: - Ò
vaga errante, soberba estás pois sou eu quem te tinjo de dourado no arrebol.
Lembre-se de mim. - Se não fossemos nós... serias tu um nada. Não terias tu, o
teu amado. Ingrata é o que és. Da terra, a réplica vem... - Você lua e você
sol. Dizem o que dizem, querendo a mim maltratar. Inveja, apenas inveja é o que
sentem. Eu, todos os dias, quedo-me à praia para o meu amante encontrar e assim
juntos, eternamente viver. Vocês, no entanto, perseguem-se há infindas gerações
e encontram-se apenas em raros eclipses. Vãos-se... calem-se... afastem-se.
Continuem a sua perseguição um do outro. Quem sabe, talvez um dia alguém maior
que nós, de vocês tenha cuidado e os faça unirem-se e tenham a felicidade que
nunca, jamais tiverem ou ousaram sonhar!
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